terça-feira, 30 de novembro de 2021

Encontro com o autor João Pedro Mésseder - Clubes de Leitura na Escola

Decorreu hoje o encontro com o escritor João Pedro Mésseder, pseudónimo de José António Gomes, a propósito do seu livro "O Aquário", que foi objeto de leitura e reflexão no âmbito dos Clubes da Fantasia e da Tertulinha, na E.B. da Várzea de Sintra. O encontro decorreu online com escolas de todo o país em simultâneo, e foi promovido pela iniciativa Clubes de Leitura na Escola, do Plano Nacional da Leitura. 

O escritor começou por esclarecer que quando escreve livros sobre outros autores, fazendo a sua crítica, usa o seu nome próprio - José António Gomes; mas quando escreve livros mais inventivos usa o nome da família que viveu na casa onde sempre habitou no Porto, isto é, o seu nome literário ou pseudónimo. Acrescentou que João Pedro é um nome que vem da infância, nome de dois melhores amigos que eram ambos João e de cujo nome tinha inveja porque é antigo, curto e universal. 

O autor mostrou um livro da cidade do Porto com a imagem da ponte D Luís I e a menina fada que anda a visitar os lugares da segunda grande cidade portuguesa. Disse escrever sobretudo contos e que O Aquário é um livro que revela muito de si quando menino. Quando era pequeno gostava de passear pela baixa do Porto, com a mãe, e ver as lojas de animais. Sonhava ter em casa um aquário porque gostava muito do mar e do rio. Queria ter um aquário, mas tinha dois gatos, o que seria um problema. Por isso, quando escreveu um conto ilustrado, não resistiu a contar uma história de peixes que vivem num aquário, mas que não é só uma história de peixes. Confessou que o pai nunca lhe ofereceu um aquário e, através da escrita, ele realizou o sonho de infância de o ter. 

João Pedro Mésseder referiu que no guião de leitura orientada vem o poema Aquário, o qual está numa sua antologia - Infância Minha. - e leu-o aos alunos. O poema refere que o aquário é um mundo em miniatura, um mundo em ponto pequeno em que há peixes como as pessoas, que falam uns com os outros, que têm problemas em volta da presença de uma doença, como hoje temos com a pandemia. Todos percebemos os problemas que uma doenca pode ter para a vida em sociedade. Quando há doenças, as pessoas começam a não conseguir comunicar umas com as outras, o nervosismo vem à tona e leva as pessoas a zangarem-se em vez de construirem uma solução coletivamente. E é exatamente isso que no livro O Aquário acontece. 

 Mostrou alguns dos livros que escreveu, como O conto da travessa das musas, um local que fica perto de sua casa; O pai natal e o minúsculo menino; Poucas letras tanto mar ( porque gosta muito do mar ; de casa vê o mar); Contos e lendas de Portugal e do Mundo, Versos com Reversos ( o seu 1.° livro) e uma série de poemas sobre o mundo no seu mais recente livro - Pequeno livro das coisas, coisas que gostam de coisas. 

 À primeira pergunta que lhe foi colocada respondeu que na infância lia as imagens quando ainda não sabia ler; depois comecou a ler aventuras, BD, tudo. Questionado sobre como superava o dilema da página em branco, o escritor disse que às vezes escreve na cabeça, por vezes já na cama e só depois passa para o papel. Vai passear, ouvir música, ver o mar... Confessou que quando vê o mar  se inspira (a praia, as gaivotas, ...).   

Perguntaram-lhe se alguma vez se sentira só e triste como o peixe vermelho e o autor respondeu afirmativamente, quer em situações da vida profissional quer de amigos. Ser discriminado nunca lhe aconteceu; teve a sorte de sempre ter convivido com pessoas educadas, mas às vezes, disse, sentimo-nos impotentes para vencer alguns obstáculos como, por exemplo, não gostarem de nós, sendo necessário manter um diálogo para ajudar essas pessoas. Disse que já tivera situações em que sentiu inimizade e porque conseguimos vencer esta inimizade, acabamos por ser capazes de fazer coisas em conjunto e construirmos uma amizade.

 Para escrever o livro O Aquário reiterou que se inspirou no seu gosto pelos aquários e peixes e não resistiu a explicar: "aquário" é uma palavra esdrúxula, bonita, da família da palavra água. Acrescentou que também se inspira naquilo que vê à sua volta, preconceitos, pessoas que constroem ideias negativas sobre outras porque são diferentes pela cor, pela nacionalidade, pela maneira de vestir ou falar e a amizade é uma forma de resolver esses preconceitos. Esclareceu que O Aquário é o conto da sua amizade com os Joões da sua infãncia, porque às vezes também se zangavam mas eram sempre amigos. A amizade sempre vencedora! Questionado sobre a razão por que escolhera um aquário e não um rio, respondeu que um aquário é um mundo em ponto pequeno, consegue representar melhor o mundo em miniatura. O rio seria muito grande e a história passaria a ser um romance. À questão colocada pelo nosso representante da escola neste encontro, o José, o autor confirmou que não mudaria nada nesta história porque o assunto, infelizmente, corresponde a um problema que existe no aquário e continua a existir no mundo, no bairro: as pessoas dizem mal umas das outras e são preconceituosas. 

Sobre o livro que mais gostou de escrever, o autor não individualizou, disse ter gostado de todos. 

Terminou o encontro dizendo que gosta de escrever para crianças porque se divertia a ler e a brincar quando era pequeno. Disse ter havido uma época em que foi professor de jovens e sempre se preocupou com o que liam. Neste momento, está a escrever um livro para adultos. Explicou, por último, que às vezes, os escritores fazem uso dos animais e isso é material bom para passar mensagens às pessoas, como é feito nas fábulas de Fedro, Bocage, Esopo, La Fontaine. E foi assim que, gostando tanto de livros e das palavras, quis imitar os escritores dos livros que tanto lhe agradavam em criança. Conseguirá ter o mesmo efeito nas crianças de hoje?
A esta pergunta cabe a si, leitor, responder!



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