E porque o Dia da Criança aconteceu na véspera, e a Maria Inês quis recordá-lo, lembrámo-lo através do poema "Brinquedo", de Miguel Torga, que foi o mote para aprendermos a fazer um papagaio de papel. Ficamos à espera dos testemunhos de voo de todos os participantes de hoje na Tertulinha!
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.
Miguel Torga
E para quem gosta de poesia, aqui fica outro poema dedicado a todos quantos gostam, ou gostavam, de brincar com papagaios de papel, desta vez, de Sebastião da Gama.
O papagaio
Deixem-no lá, bem preso à terra,
vibrando!
Aos arranques,
a fazer tremer a terra,
a querer voar
pelo ar
até pertinho do Céu…
Deixem-no lá, deixem-no lá, o papagaio!
Deixem-no lá viver a sua inquietação
e ser verdade aquela ânsia
de fugir.
Não lhe cortem o cordel!
Poupem o papagaio à dor enorme
de cair,
papel inútil, roto, pelo chão.
Não lhe ensinem,
ao pobre papagaio de papel,
que a sua inquietação
é a única força que ele tem.
Deixem-no lá,
naquela ânsia de fuga,
no sonho (a que uma navalha
pode dar o triste fim)
de fazer ninho no Céu:
Sempre anda longe da terra, assim,
o comprimento do cordel…
Deixem-no lá, deixem-no lá,
o papagaio de papel!...
Sebastião da Gama
Itinerário Paralelo
Lisboa, Ed. Ática, s/d.
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